Comissão de Prevenção do CRM-PR elaborou protocolo para auxiliar no encaminhamento de profissionais que precisam de tratamento e acesso à estrutura de serviços de atenção à saúde mental
A dependência química (DQ) e agravantes à saúde física e mental dos médicos e estudantes de medicina têm gerado iniciativas de estudos e prevenção desde o final dos anos 1990. A visibilidade do problema na sociedade fez com que ganhasse corpo nas duas últimas décadas e, mais especialmente, agora, com o impacto trazido pela pandemia junto aos serviços de saúde.
Assim, o cenário que se apresenta hoje, ancorado em estatísticas, é de alerta frente ao crescimento do universo de profissionais de saúde que fazem uso de drogas ilícitas ou não, refletindo em suas condutas pessoais e profissionais e, consequentemente, em riscos para si e para os seus pacientes.
Depois de constituir a sua Câmara Técnica de Psiquiatria e, na sequência, a Comissão de Saúde do Médico, o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) deliberou, mais recentemente, em ativar um grupo de trabalho mais específico, nascendo assim a Comissão de Combate à Dependência Química e Suicídio, através da Portaria n° 015/2022.
Após quatro reuniões e amostras da gravidade do problema, a Comissão constituiu fluxograma de encaminhamentos que objetiva contribuir na agilização de comunicação de cada caso específico e ao alcance de médicos, pacientes, seus familiares e colegas de profissão, inclusive os que integram os comitês de ética dos serviços hospitalares.
O psiquiatra e professor Marco Antonio do Socorro Marques Ribeiro Bessa, conselheiro integrante da Comissão de Prevenção, elaborou uma minuta de protocolo de informações e encaminhamentos de médicos com dependência química e/ou ideação suicida. As situações abordadas tratam de intoxicação medicamentosa, dependência química e pacientes crônicos que dependem de internação, tentativa de suicídio e ideação suicida.
O propósito imediato, como refere o especialista, é de ajuda aos médicos em condições de vulnerabilidade. Contudo, não retira do CRM-PR a decisão de eventual abertura de processo administrativo, em consonância com as prerrogativas legais e que visam proteger o próprio médico e seus pacientes.
Como observado pelos integrantes da Comissão de Prevenção, os dependentes químicos necessitam tratamento urgente, tão logo o mal seja detectado, pois protelar providências resulta em agravamento da doença e aumento dos riscos. Explicam, contudo, que o tratamento é complexo e exige equipe multidisciplinar e o envolvimento dos próprios familiares. O primeiro passo é convencer o paciente a aceitar ajuda, tarefa difícil considerando que uma das características da dependência química é a negação de sua existência.
Dependência química: como proceder
Grupos de ajuda e prevenção
Dependentes podem ser orientados a procurar ajuda em grupos de programa de tratamento de alcoolismo, como AA (em Curitiba são mais de 20 unidades e que podem ser consultadas na internet), Narcóticos Anônimos/NA (existem pelo menos seis em Curitiba) e CVV (Centro de Valorização da Vida), que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone (188), e-mail e chat 24 horas todos os dias.
Intoxicação
Sendo situação de urgência/emergência, deve ser acionado o SAMU (telefone de emergência 192). Se dependente do serviço público, atendimento em UPA ou PA de hospital credenciado ao SUS. Se detentor de plano de saúde, buscar atendimento em unidade de pronto atendimento de hospital credenciado, seja na Capital ou no interior).
Casos crônicos de dependência química (DQ)
Buscar orientação do médico assistente para hospitalização. Em Curitiba, a Política de Saúde Mental é estruturada por meio da Rede de tenção Psicossocial (RAPS), que conta com diversos pontos de atenção para acolhimento e tratamento de pessoas com transtornos mentais e usuárias de álcool e/ou drogas. Este serviço público envolve Atenção Primária, Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Ambulatórios de Saúde Mental (serviços que ofertam atendimentos de psicologia e psiquiatria), Hospital Psiquiátrico (vagas são liberadas pela Central de Retaguarda em Saúde Mental, após avaliação médica realizada em serviços da rede de saúde) e Unidades de Pronto Atendimento (serviços abertos de atendimento à Urgência e Emergência Psiquiátrica).
Tentativa de suicídio
Quando for detectada situação de transtorno mental em fase aguda (alucinação, delírio, agressividade, agitação, intoxicação e tentativa de suicídio) ou intercorrência clínica (delirium tremens, por exemplo), o atendimento poderá ser feito na UPA mais próxima da residência do paciente, como alternativa ao atendimento dos CAPS. Caso o paciente não consiga ser deslocado à UPA, poderá ser acionado o SAMU (fone 192). A exemplo de Curitiba, centros maiores como Londrina, Maringá, Cascavel e Ponta Grossa mantêm serviços semelhantes e funcionais. Depois do atendimento clínico, dependendo do método utilizado, ter avaliação psiquiátrica e, muito provável, hospitalização em clínica psiquiátrica.
Ideação suicida
Quando dependente do serviço público, encaminhar para avaliação psiquiátrica em UPA, (Unidade de Pronto Atendimento). Ou hospitais e clínicas credenciadas da saúde supletiva que tenham pronto atendimento. De Curitiba, são exemplo as clínicas Heidelberg, Porto Seguro, Uniica (Unidade Integrada de Crise e Apoio a Vida), Clínica Cadmo e Clínica Psiquiátrica Curitiba Unimed.
Internação voluntária ou involuntária
Sempre comunicar alguém da família, tanto em casos de DQs quanto de tentativa ou ideação suicida. Neste caso, pode se avaliar conveniência de iniciar Processo Administrativo para acompanhar o tratamento. Conforme a lei, a internação involuntária dependerá de pedido de familiar ou responsável legal ou, na falta deste, de servidor público da área de saúde, de assistência social ou de órgãos públicos integrantes do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad).
*O prévio contato e/ou acompanhamento de familiares é condição importante para avaliação especializada, internação, estabilização e acompanhamento do tratamento.
Pense Nisso, a campanha
O CRM-PR produziu dois cartazes de divulgação da campanha que visam chamar a atenção e também sensibilizar colegas e demais membros das equipes na identificação de casos. O material pode ser impresso em impressora comum, tamanho A4, e sugere-se fixar em locais de uso restrito das equipes, como salas de descanso e banheiros.
Faça o download de material da campanha Pense Nisso AQUI
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Linha Guia da Saúde Mental lançada pela Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, em 2018, e que tem ampla abordagem sobre prevenção e assistência. Acesse direto AQUI
Por: Comunicação AML – Divulga e Infinita Escrita com informações Portal CRM-PR em 12/05/2023
comunica.aml@aml.com.br
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